terça-feira, 14/05/2024

Bitcoins, Blockchain e a Corrupção Global

Entendendo a Blockchain

A blockchain é um livro de registros, público, de todas as transações realizadas com bitcoins; ela é a principal inovação tecnológica presente no protocolo Bitcoin.
Ela é um banco de dados que fica distribuído entre diversas maquinas, mantidas pelos usuários da rede bitcoin, e estão localizados ao redor do mundo.
É como se a blockchain fosse um livro diário e cada bloco que compõe a blockchain fosse uma página deste livro.
A quantidade de transações que cabem em cada folha – ou em cada bloco – é delimitada no código fonte do sistema, e atualmente comporta 1 mb de transações por bloco.

Leia mais sobre o debate acerca do tamanho dos blocos.

Desde o surgimento da primeira bitcoin através do processo de mineração, todas as bitcoins criadas e todas as transações realizadas utilizando bitcoins foram e estão sendo devidamente classificadas e arquivadas.

Desde que o sistema permaneça suficientemente descentralizado (ninguém detenha mais que 51% do poder de auditar e escrever as transações no banco de dados), não há como um usuário criar novas moedas ou alterar algum registro para se beneficiar, sem divulgar isso para todos os outros usuários da rede e esperar um consenso entre eles.

 

A Inovação das Bitcoins Contra a Corrupção

O que há de inovativo nisso? Bom… a blockchain é um banco de dados aberto e distribuído entre qualquer um que quiser participar do sistema bitcoin.

O fato dela estar disseminada entre diversos computadores, em diversos países, em todos os continentes, mostra o quão resistente este sistema é. Não é fácil hackeá-lo, derrubá-lo ou restringí-lo totalmente.

Ou seja, ainda que o Governo do País A ordene que a sua polícia prenda todas as pessoas que utilizarem bitcoins – como a Venezuela está tentando fazer – os outros computadores espalhados ao redor do mundo ainda continuarão operando para deixar a rede funcionando. E eles têm incentivos econômicos para isso.

Agora… como utilizar este sistema para acabar com a corrupção?

Epigraph e a Factom, ambas empresas de tecnologia nascidas no Texas, foram contratadas pelo governo de Honduras – um dos mais corruptos no mundo – para desenvolver um sistema de registro de terras utilizando a blockchain como lastro de confiança.

 

Atualmente o registro de terras é controlado pelos oficiais do governo. E a ideia é que o registro, após a implantação do projeto, continue sendo feito pelo Governo; no entanto, tudo vai ser feito de forma 100% transparente.

Por consenso na área de arquitetura de softwares, qualquer banco de dados cujo acesso estiver limitado a alguns poucos pode ser controlado e manipulado.

“No passado, Honduras sofreu com fraudes agrárias”, disse Peter Kirby. “O banco de dados do país foi basicamente hackeado. Os burocratas entraram nele e alteraram os registros para “ganharem” imóveis de frente para a praia e muito mais.”

Sendo assim, a ideia é guardar os dados num banco público global e deixar qualquer usuário da informação acessar os registros públicos rapidamente. Seja ele hondurenho ou estrangeiro; da polícia, do jornal, um professor, ou um cidadão comum. É tudo aberto, é um banco de dados global.

 

A Blockchain na Esfera Pública

Diversas companhias e startups estão trabalhando em soluções para atender a essa demanda por soluções contra corrupção.

O sistema da Factom trabalha utilizando timestamps e um mecanismo distribuido que trava os dados, deixando-os verificáveis e independentemente auditáveis.

Através da adoção dessa tecnologia, a Factom permite que pessoas, negócios e governos utilizem um sistema que é matematicamente seguro e imune a manipulação para guardar seus registros. Ela usa a blockchain da bitcoin para ancorar suas entradas, assim um pacote de seus registros correspondem a somente uma timestamp na blockchain, e assim, essas timestamps são consideradas uma prova de que existem.

No entanto, a Factom tem sua própria blockchain e rede de servidores distribuidos onde as companhias podem criar novas “factom chains” e inserirem quantos registros quiserem. Ela funciona como uma segunda camada de blockchain. Isso é útil, pois é um meio de diminuir o fluxo de operações de gravação de informações na blockchain do protocolo bitcoin.

Assim, imagine que cada “factom chain” corresponda a um livro que deve agrupar informações semelhantes. Uma chain seria utilizada no registro de terras, outra no de ações, outra no de ocorrências policiais, uma no de ocorrências médicas e por aí vai…

A vantagem do sistema da Factom, por exemplo, é que um governo pode inserir milhões de linhas de registros em uma ou mais “factom chains” por um custo muito baixo; e quando os blocos da “factom chain” estiverem prontos, eles são registrados na “factom chain” e imediatamente ancorados – leia-se lastreados – com um hash na blockchain da bitcoin.

Percebe-se então que a Factom utiliza a resistência e a imutabilidade da blockchain para criar um sistema que guarde os registros e deixe-os quase não-hackeáveis.

 

O Potencial da Tecnologia Blockchain

Atualmente todos os registros governamentais são gravados em bancos de dados convencionais e relativamente fáceis de se manipular. Dependendo das permissões do usuário, este pode alterar o banco de dados e apagar suas pegadas digitais. Assim sendo, vê-se que para registros públicos, são ineficientes.

Esse problema não ocorre somente em Honduras, que tem um dos piores níveis de controle de corrupção segundo a ONG de Transparency Internacional. A corrupção é um problema que atinge sistemas governamentais de todo o mundo.

Veja os dados do Brasil

A tecnologia por trás das bitcoins – a blockchain – parece quase que perfeitamente lapidada para mitigar quaisquer chances de alterações ilícitas em documentos governamentais. Uma das possíveis e prováveis grandes vantagens de um Governo “lastreado” na blockchain é o ganho de eficiência no uso dos recursos públicos, devido à sua transparência. Além é claro do reestabelecimento da confiança entre governados e governantes.

 

Mais Eficiência para Diversos Setores

Mas… por que parar nas finanças? A tecnologia Blockchain pode ser aplicada a basicamente tudo. Já existe, por exemplo, uma companhia que adiciona seus diamantes à blockchain para prevenir fraude de seguros. A tecnologia pode ser aplicada para prevenir fraude no sistema de votações ou para automatizar a alocação de dinheiro público.

“Nenhuma quantidade de dinheiro ou ameaças pode defazer o que foi feito, sem deixar um rastro auditável”, ele diz.

Fraude e corrupção são problemas antigos e pareciam ser extremamente difíceis de se combater. No entanto, com o surgimento do protocolo Bitcoin, parece existir uma luz no final do túnel. O sistema – que substitui diversos serviços dos bancos comerciais – não tem agradado aos banqueiros; muito menos aos poderosos do Estado.

Arquitetura distribuídaimutabilidade e transparência são os 3 atributos que permitem aos aplicativos baseados na blockchain combaterem fraudes e corrupção”, disse Abhi Dohal, Vice Presidente de Desenvolvimento de Negócios na Epigraph.

É só uma questão de incentivar o empreendedorismo relacionado às aplicações baseadas na blockchain, aguardar as ideias surpreendentes que aparecerão e fomentá-las devidamente.

 

O Novo Lastro dos Governos

A tendência otimista é que a tecnologia evolua até se tornar um protocolo de fácil utilização e comumente utilizado para proteger dados de transações nas tarefas do dia-a-dia.

No início da sociedade moderna, os governos tinham as transações de sua economia lastreadas no ouro. Após o acordo de Bretton Woods, o lastro em ouro foi trocado pela confiança de que os que estão no poder administrarão a economia de maneira racional e transparente.

Hoje, devido aos altos níveis de corrupção, guerras, abuso de poder governamental, e diversos outros motivos, a confiança no modelo de governato atual está abalada. As pessoas não Vêem razão para confiar nos políticos que estão no poder.
O mundo pede mais transparência. Menos intervenção governamental. Menos poder aos governos e governantes.

Basicamente em qualquer lugar onde a troca de informações está presente, é possível aumentar a eficiência dos sistemas para criar registros mais rápidos, com menores custos, menos corruptíveis e menos fraudáveis com a tecnologia da blockchain.

Sabendo disso, por que algum Governo não adotaria essa tecnologia?

A partir disso, vê-se que deve haver uma pressão para a adoção da tecnologia blockchain; e isso pode – e deve – nos levar a um modelo de sociedade mais transparente e honesto.

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