O perfil pseudônimo do X (antigo Twitter) @kunoichi987 alega ter encontrado a carteira de Bitcoin (BTC) de Daniel Fraga, lendário pioneiro das criptomoedas no Brasil, cujo paradeiro é desconhecido desde 2017.
Em uma thread publicada na rede social, @kunoichi987 afirma ter rastreado o endereço de carteiras de Bitcoin pertencentes a Fraga, a partir da captura de tela de um dos vídeos publicados pelo Bitcoiner no Youtube.
De acordo com a investigação, o endereço estaria envolvido em duas transações no valor de 0,001 BTC, tendo movimentado um total de aproximadamente US$ 198 a preços atuais. Este endereço se conecta com outras 100 carteiras de Bitcoin em transações cujo destino final seria a principal carteira de BTC de Fraga.
Ao todo, a carteira movimentou 294547.08662253 BTC (o equivalente a US$ 28 milhões a preços atuais) e atualmente, possui 4,78 BTC (US$ 482 mil).
Saldo da suposta carteira de Daniel Fraga. Fonte: @kunoichi987 (X)
Segundo @kunoichi987, as transações têm um padrão recorrente de recebimento de altos valores a partir de múltiplas carteiras.
“Se você olhar as transações, vai ver que ele sempre transfere bitcoins de 100 carteiras para essa principal”, afirma. “Isso se repete várias vezes, é claramente o próprio dono desta carteira tirando bitcoin de suas outras carteiras e transferindo para essa como se fosse a principal”, assume a investigadora pseudônima.
Uma das carteiras que transacionou fundos com a suposta carteira de Fraga – e que também seria de sua propriedade, segundo a investigação – movimentou cerca de 12 mil BTC (US$ 1,2 bilhão). Grande parte das transações ocorreu em 2016 e 2017, antes de Fraga desaparecer.
@kunoichi987 garante que a carteira pertence a Fraga, pois o endereço também aparece no mesmo vídeo. “Essa carteira que ele movimentou o que hoje equivale a US$ 1,2 bilhão é uma carteira abandonada e sem transações de grandes [valores] desde 2017″, afirma.
Volume total movimentadoo por uma das supostas carteiras de Daniel Fraga. Fonte: @kunoichi987 (X)
@kunoichi987 afirma que é impossível saber se Fraga mantém e opera Bitcoin em outras carteiras porque isso envolveria analisar “milhares de transações.” Ela também levanta a possibilidade de que Fraga tenha convertido grande parte de suas participações de BTC em Bitcoin Cash (BCH), visto que ele apoiou o hard fork do Bitcoin.
CONTEÚDO
Críticas à investigação
Em uma análise posterior à investigação publicada no X, o analista de dados on-chain Cauê Oliveira confirmou que uma das carteiras em questão pertencia, de fato, a Fraga:
“O [primeiro] endereço vazado citado na thread abaixo recebeu moedas que vieram do endereço 1GFX…7SF. Este é um endereço do Fraga! Neste endereço, passaram mais de 51 mil BTCs. O que em valores hoje seria algo como US$ 5,1 bilhões, mas estas movimentações foram entre 2013 e 2014.”
Oliveira acrescentou que o referido endereço “fez diversas interações com entidades conhecidas, como Mercado Bitcoin, Bitpay, Coinpayments e outros.”
Interações da suposta carteira de Fraga. Fonte: Cauê Oliveira (X)
No entanto, os dados disponíveis não permitem que se chegue a conclusões definitivas sobre o destino dos BTCs do legendário Bitcoiner brasileiro. “Embora, de fato, seja uma das carteiras usadas pelo Fraga, o caminho não leva a lugar nenhum”, afirmou Oliveira.
Segundo o analista, os endereços que interagiram com a suposta carteira de Fraga são de Coinjoins, um método de mesclagem de transações de Bitcoin para ofuscar a origem e o destino dos fundos:
“Por que eu disse que não vai dar em lugar nenhum? Basicamente pelo fato que estas moedas foram enviadas para endereços de Coinjoin, a segunda carteira citada na thread abaixo, pela qual já passaram mais de 147 mil BTC não é de ‘um indivíduo’, mas de centenas ou milhares.”
O analista acrescenta que a carteira foi sancionada por estar relacionada a denúncias de fraude, lavagem de dinheiro e extorsão:
“O motivo é que provavelmente se trata de um endereço de serviços como a Whirpool, utilizado por diversos indivíduos para mixar moedas e distorcer o rastreamento on-chain. Tanto bons usuários quanto ‘maus’ utilizam este tipo de serviço e é aqui que o rastro se perde.”
Oliveira afirma que obviamente Fraga estava ciente de que os endereços revelados em seus vídeos poderiam ser investigados e tomou precauções para impedir o rastreamento.
Além disso, o analista acredita que a suposta carteira de Bitcoin de Fraga identificada por @kunoichi987 “não passa de um endereço de ‘testes’ utilizado para interagir em dezenas de protocolos.”
“Embora tenha passado mais de US$ 5 bi em valores atuais na suposta carteira, não creio que este seja o endereço principal de Daniel”, conclui Oliveira.
O analista não faz menções às demais carteiras associadas à Fraga na investigação.
O mistério do desaparecimento de Daniel Fraga
A última manifestação pública de Fraga está registrada em um vídeo divulgado no Youtube em 5 de março de 2017, cujo título é “UFO in Brazil: Teleportation? Cloaking? Light effect?” (OVNI no Brasil: teletransporte? Cloaking? Efeito de luz?). As imagens, que, na descrição do vídeo, ele próprio afirma ter captado, mostram um ponto luminoso movimentando-se sobre um fundo escuro. Depois disso, ele desapareceu misteriosamente, despertando a curiosidade de seus seguidores e da comunidade cripto brasileira acerca do seu destino.
Em novembro de 2020, foi registrada uma movimentação na conta do Bitcoiner na exchange de criptomoedas LocalBitcoins, sinalizando que ele estaria vivo. Desde então, Fraga nunca mais deixou nenhum tipo de rastro.
O Bitcoiner ganhou fama através do Youtube com vídeos que continham denúncias contra a classe política e preconizavam o uso do Bitcoin, então uma moeda quase desconhecida para a grande maioria dos brasileiros, cujas primeiras unidades ele dizia ter adquirido por R$ 12,00.
Em 7 anos, o youtuber foi alvo de processos de diversas autoridades, incluindo juízes, auditores da Receita Federal e de deputados e prefeitos, e muitas vezes, seus vídeos foram retirados do ar por determinação judicial.
Entre os membros da comunidade cripto, alinhados aos seus ideais anarcocapitalistas, alimenta-se a lenda de que a perseguição estatal foi a maior responsável pelo seu sumiço.