Aumento dos limites de gas na L1 da Ethereum traz riscos, mas também grandes recompensas

A comunidade Ethereum está em um intenso debate sobre aumentar ou não o limite de gas na mainnet da Ethereum em até 100%.

O limite de gas refere-se à quantidade máxima de gas que pode ser gasto para que as transações sejam incluídas em um único bloco da Ethereum.

Um grupo de desenvolvedores e influenciadores da Ethereum apoia a ideia de aumentar o limite de gas, afirmando que isso aumentaria a capacidade da rede L1 e revigoraria a inovação. No entanto, outros desenvolvedores — incluindo Toni Wahrstätter, da Fundação Ethereum — alertam que isso poderia representar sérios riscos para a estabilidade e segurança.

Em uma postagem no X em 9 de dezembro, o pesquisador da Ethereum Justin Drake afirmou que configuraria seu validador para um limite de gas de 36 milhões, o que representa um aumento de 20% em relação ao limite atual de 30 milhões, mesmo enquanto outros desenvolvedores pedem um aumento muito maior, chegando a 60 milhões.

Por que aumentar os limites de gas em primeiro lugar?

Emmanuel Awosika, diretor criativo da 2077 Collective, disse ao Cointelegraph que o conceito principal por trás do aumento dos limites de gas é uma forma de a Ethereum mostrar que ainda está expandindo seus limites e oferecendo aos desenvolvedores ambiciosos algo com o que trabalhar.

“Agora, com um limite de gas tão baixo, há certos aplicativos que você realmente não pode implantar, porque, no momento em que esses aplicativos se tornam virais, os preços do gas disparam e a experiência do usuário se degrada muito.”

“Ter maior capacidade significa que mais desenvolvedores têm confiança para implantar coisas na L1 e não serem excluídos arbitrariamente pelos preços.”

No centro do debate está a questão de se a L1 deve ser escalada para permitir atividades de DeFi de alto valor ou se a maioria dessas atividades deve ser transferida para as L2s da Ethereum, dada a capacidade limitada da L1 de escalar enquanto ainda mantém a camada base mais descentralizada e credivelmente neutra.

Enquanto grande parte da comunidade de desenvolvedores da Ethereum coletivamente voltou sua atenção para o roteiro centrado na L2 — algo que o cofundador da Ethereum, Vitalik Buterin, começou a defender fortemente a partir de 2022 — Awosika disse que o pêndulo pode ter balançado demais.

“Por muito tempo, havia apenas esse acordo de que, ‘Sim, o roteiro da L2 é bom — ninguém fale mal dele’, mas eu sempre senti que isso está errado”, ele disse.

“A versão ideal do roteiro da Ethereum é onde você ainda tem aplicações de alto valor na L1, coisas como Uniswap que exigem muita segurança, e então você pode deixar muitas das outras coisas para as L2s.”

“Sempre deve haver esse foco em garantir que a L1 tenha muitas coisas valiosas. Isso é o que faz a Ethereum fundamentalmente diferente do Bitcoin, que é projetado para ser mantido como está na camada base.”

No entanto, o comentarista de cripto Evan Van Ness disse que, embora aumentar os limites de gas em até 100% seja um ideal nobre, a noção é praticamente morta na chegada devido à limitada escalabilidade da L1 inicialmente.

“Você aumenta muito o limite de gas, traz de volta um monte de aplicativos, tudo fica ótimo por um tempo, e então a demanda supera a oferta e rotineiramente custa 120 gwei para uma transação novamente”, escreveu Van Ness em uma postagem de 9 de dezembro no X.

“Novamente, os preços do gas são [já] razoavelmente baixos, aumentar o limite de gas não é inovação.”

Complicações técnicas acima de um limite de 40M de gas

Em uma postagem de 9 de dezembro na página de Pesquisa da Ethereum, Wahrstätter compartilhou que o cliente da camada de consenso (CL) da Ethereum impõe um tamanho máximo de bloco descompactado de 10 mebibytes (MiB) para propagação eficiente pela rede.

Essa restrição é crucial para manter a propagação do bloco sem introduzir atrasos ou instabilidade.

De acordo com Wahrstätter, um aumento proposto para 60 milhões de gas por bloco ultrapassaria esse limite, levando a falhas de propagação, slots de validador perdidos e desestabilização da rede.

Dankrad Feist resumiu os detalhes altamente técnicos em uma postagem de 11 de dezembro no X. 

“O limite de gas é controlado diretamente pelos validadores. Com cada bloco, um validador vota se aumenta ou diminui o limite de gas. Então, muito diferente do processo EIP, não há um ‘processo padrão’ para aumentar o limite de gas.”

“Agora, nunca houve o aumento do limite de gas desde o Merge. No entanto, antes do Merge, era uma prática estabelecida que os mineradores não usariam esse poder arbitrariamente, mas tipicamente apenas depois que os desenvolvedores principais sinalizavam que estava ok mudar.”

“Infelizmente isso encontrou um obstáculo quando os desenvolvedores principais descobriram que aumentá-lo acima de 40 milhões na verdade não era seguro devido a uma constante que precisa ser alterada nos clientes primeiro.”

No entanto, Feist disse que, embora o limite de gas possa ser viavelmente aumentado acima de 40M, o acirrado debate que emergiu levou a um acordo tácito entre a comunidade de desenvolvimento de que 36M era um bom “primeiro passo” para tornar isso o padrão.

“Eu acho que é provável que alguns grandes pools se juntem nas próximas semanas e veremos esse aumento”, ele disse.

A saída de um desenvolvedor principal sinaliza um “fundo intelectual” para a Ethereum

O debate sobre o aumento dos limites de gas e a revitalização da inovação na L1 ocorre enquanto o desenvolvedor principal da Ethereum, Max Resnick, anunciou que estaria se mudando para Solana, citando uma comunidade de desenvolvedores rígida e uma falta de vontade de escalar a L1 da Ethereum como algumas de suas razões para a mudança.

Resnick há muito tempo é crítico do roteiro focado na L2 da Ethereum, dizendo que deveria ter sido dada muito mais prioridade para escalar a L1, permitindo que aplicativos baseados na mainnet sobrevivessem e prosperassem.

Para Awosika, a saída de Resnick e o drama subsequente nas redes sociais — especialmente por parte dos defensores da Ethereum — foi o que ele chamou de “um sinal dos tempos”.

“Max é um dos primeiros desenvolvedores da Ethereum, ele era realmente brilhante e tinha muitos planos realmente ambiciosos para a rede.”

“E não apenas foi meio que empurrado para fora, mas quando ele realmente saiu, muitas pessoas disseram, ‘ainda bem que se foi, ele era um infiltrado’. Vendo tudo isso se desenrolar, sabe, mal conseguia controlar minha raiva.”

“Isso marca o fundo intelectual para a Ethereum.”